12 de junho de 2008

A navegação e a introdução de espécies - Mexilhão Dourado


A navegação e a introdução de espécies

A invasão de espécies exóticas é uma grande ameaça à integridade dos ecossistemas aquáticos. O uso de “água de lastro” nos grandes navios, para obter maior estabilidade, tem sido um eficiente meio de dispersão de organismos marinhos e de água doce para outros ecossistemas.

O transporte entre países distantes pode provocar a homogeneização da flora e da fauna, o que compromete a biodiversidade, o meio ambiente e a saúde humana. Em todo o mundo são transferidas anualmente cerca de 10 bilhões de toneladas de água de lastro contendo cerca de três mil espécies de plantas e animais.

Ocorrência do bivalve Limnoperna fortunei no Pantanal

Os rios Paraguai e Paraná formam a Bacia do Prata, a segunda maior bacia fluvial da América do Sul e a quarta do mundo.



A navegação é um sistema importante de transporte capaz de integrar as economias dos cinco países desta Bacia (Brasil, Bolívia, Argentina, Paraguai e Uruguai).

Através da navegação o mexilhão dourado, Limnoperna fortunei (bivalvia, Mitylidae), chegou na Argentina, onde é observado desde 1991. É um bivalve pequeno, cerca de 3 cm, originário dos rios Asiáticos, em especial da China. Em 1998 foi observado no Pantanal Mato-grossense seguindo a rota da navegação. Inicialmente foi observado no material do fundo de uma lagoa ligada ao rio Paraguai, a Baia do Tuiuiú (18º49’18”S e 57º39’13”W ), próximo a Corumbá.



Em janeiro de 1999, o mexilhão dourado foi observado no rio Paraguai, em Forte Coimbra, onde as rochas expostas, devido ao baixo nível da água, estavam totalmente cobertas pelo bivalve.

Ao norte, na região de Bela Vista do Norte (17º38’04”S e 57º41’45”W), foi observada intensa colonização numa formação rochosa na margem do rio Paraguai. Foi observado em baías ligadas ao rio Paraguai, como a Baía do Castelo e Gaíva.

Há também registros para o Canal do Tamengo (10º59’S e 57º40’W), um canal de ligação entre a Bolívia e o Brasil. Podendo ser considerado presente na Bolívia.

Desta forma, o bivalve já pode ser considerado presente praticamente em toda a área do Pantanal e tende a se espalhar ainda mais pela planície levado pelas inundações anuais.

A colonização ocorre nos mais diversos ambientes: rios, canais, corixos, baías, de 10 cm a mais de 5m de profundidade, sobre diferentes substratos (rochas, madeira, metais, cascos de barcos, plásticos, tubulações). Por exemplo, os bivalves se fixaram nas telas de tanques-rede utilizados para piscicultura no rio Paraguai, prejudicando a limpeza dos mesmos.

O MEXILHãO DOURADO CAUSARá DANOS ECOLóGICOS NA BACIA DO MIRANDA

O mexilhão dourado chegou ao Pantanal, onde foi observado em 1998, incrustado nos cascos das embarcações que trafegam no sistema Paraguai-Paraná, entre Argentina e Brasil. Foi observado no rio Paraguai até Bela Vista do Norte (MT), acima da confluência com o rio Cuiabá, em baías conectadas ao rio (Tuiuiú, Castelo, Mandioré, Zé Dias e Gaíva) e no Canal do Tamengo, canal de ligação entre a Bolívia e o rio Paraguai.

Como chegou ao rio Miranda?

O mexilhão dourado foi registrado no rio Miranda recentemente, em 2003, e foi observado até a altura do Passo do Lontra. Provavelmente veio do rio Paraguai e chegou ao Miranda, incrustado nos cascos das embarcações, em plantas e equipamentos de pesca (adultos) ou dentro de reservatórios de água (larvas) abastecidos no rio Paraguai.

Outra forma de dispersão é através de barcos transportados em rebocadores via terrestre pela BR 262. Larvas e adultos do mexilhão dourado podem ficar em plantas e água, no motor e dentro do barco, e na vegetação presa ao reboque. Estima-se que o mexilhão dourado pode sobreviver até 7 dias fora do seu ambiente natural.

Segundo dados do Sistema de Controle de Pesca do Mato Grosso do Sul (SCPESCA/MS) a região do Passo do Lontra é um dos lugares mais frequentados pelos pescadores da bacia do alto rio Paraguai. Em torno de 7% dos pescadores visitam mais de um lugar durante as pescarias.

E, devido a proximidade entre os rios Paraguai e Miranda e facilidade de acesso pela BR 262, é possível que os pescadores visitem os rio Paraguai e Miranda na mesma viagem. 70% dos pescadores utilizam veículo próprio para suas viagens, e muitos deles podem transportar seus barcos.

Tudo isso pode ter contribuído na introdução do mexilhão dourado no rio Miranda e ajudar a dispersar a espécie para outros rios.

O que ele causa?

O efeito das incrustações do mexilhão dourado tem sido observado em estações de captação e tratamento de água (tubulações e bombas), sistema de resfriamento das hidrelétricas e entupimentos em tubulações em geral, aumentando o custo de manutenção na indústria e geradoras de energia elétrica.



O mexilhão dourado entra no sistema de refrigeração dos motores das embarcações impedindo que a água circule, causa aquecimento do motor e, pode levá-lo a fundir, caso já registrado no rio Paraguai. Também foram observadas incrustações no sistema de captação e tratamento de água das cidades de Corumbá e Ladário – MS.

Um comentário:

Daniel Braga disse...

Carol, este artigo é excelente! Já deixei referência no meu blog!

Estou usando seu blog como meus olhos numa região que nunca fui. Ficamos muito isolados nos grandes centros urbanos como o Rio de Janeiro e não viramos nossa atenção aos abusos que ocorrem no Pantanal por exemplo!

Mais uma vez parabéns pelo seu trabalho!