24 de março de 2011

Almir Sater comemora 30 anos de carreira com show em Ribeirão



Divulgando...

Violeiro volta à agenda de apresentações depois de enfrentar enchente no Pantanal, onde tem fazenda



Cantor, compositor e violeiro faz show na noite desta quinta-feira, no palco do Theatro Pedro II
Almir Sater acaba de chegar do Pantanal. Lá, enfrentou uma enchente de proporções inimagináveis. Até mesmo para um matuto nascido no Mato Grosso do Sul, o aguaceiro surpreendeu.

"Rapaz, as águas chegaram no pescoço. Muita criação morrendo, meus vizinhos ilhados. Em toda a minha vida no Pantanal, nunca vi uma cheia dessa", disse, em entrevista por telefone de sua residência paulista, na Serra da Cantareira. Almir é proprietário de uma linda Fazenda no Pananal Sul.

O violeiro, que se apresenta nesta quinta-feira em Ribeirão Preto, divide sua vida entre São Paulo e o interior do Mato Grosso do Sul, onde tem uma fazenda. Passa os meses de dezembro, janeiro e fevereiro praticamente incomunicável e só volta em março para retomar sua agenda de shows.

"Eu sou músico, vivo da música e por isso vou fazendo shows por aí. Tenho muita força, muitos fãs neste mundão paulista. É muito bom tocar pelo interior de São Paulo", comenta o músico, que diz estar de volta a Ribeirão para desfazer um mal-entendido.

"Da última vez que estive por aí houve um certo problema. Ficou algo ruim. Dessa vez não tem erro", afirma, referindo-se à polêmica causada por uma homenagem realizada ano passado no Theatro Pedro II. Muitos achavam que se tratava de uma apresentação solo do músico a preços populares. Na verdade, Almir apareceu no final do show apenas como convidado.

Trinta anos

O músico diz que não há muitas surpresas para o show desta quinta. Pretende mostrar canções de 30 anos de carreira, o que inclui sucessos como "Tocando em Frente", "Chalana" e "O Violeiro Toca". Almir Sater promete também tocar alguma coisa de seu CD mais recente, "Sete Sinais".

"Também devo tocar algumas instrumentais. Cada disco é uma fase e as pessoas também querem ouvir as mais conhecidas. Não tem como deixar de fora", afirma.

Apesar de ter um estúdio em casa, o sul-mato-grossense não é de lançar muitos CDs. "Sete Sinais", por exemplo, é de 2006.

"Hoje todo mundo consegue gravar. Mas gravar o que? Isso se banalizou. Por isso, a figura do criador passou a ter mais valor. São poucos os que realmente criam", garante.

Egoísta

Almir Sater se considera um músico egoísta porque só pensa em gravar aquilo que lhe interessa, sem se preocupar muito se vai agradar o público ou não. Tanto que descarta a possibilidade de lançar um DVD ao vivo, tão em voga entre os artistas nos dias de hoje.

"Acho um troço ruim. Você fica vulnerável, se expõe demais. A não ser que seja um documentário, contando a história do artista", informa.

Novelas

Ou seja, para ver Almir no vídeo, só na telinha, pelo menos por enquanto. O canal SBT exibe novamente a novela "Ana Raio e Zé Trovão", lançada em 1991, com o cantor e violeiro no papel principal da trama.

O folhetim tentou, em vão, repetir o sucesso de "Pantanal", que transformou o sul-mato-grossense em galã televisivo.

"Graças às novelas na televisão, meu trabalho se popularizou, gravei canções como ‘Chalana’. Nesta vida, a gente vai ficando melhor, vai se adaptando e minha carreira foi seguindo naturalmente", diz, com a calma que lhe é peculiar.

Serviço

Almir Sater
Quinta-feira, no Theatro Pedro II, às 21h
Rua Álvares Cabral, 370
Ingressos de plateia, frisa e balcão nobre a R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia); balcão simples a R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia), e galeria a R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia)
Inf.: (16) 3977-8111

18 de março de 2011

[Pousada no Pantanal Sul MS | Brasil] Cheia de 2011

Parecia que neste ano a cheia no Pantanal do Miranda não seria tão intensa quanto no ano passado, mas na verdade ela está sendo bem mais forte e apenas veio mais tarde. Enquanto em 2010 o pico da cheia veio no meio pro fim de janeiro, em 2011 o pico até o momento foi agora na metade de março.

Aliás, literalmente começamos o ano de 2011 com muita água, no primeiro dia do ano foram 87mm de chuva! Fechamos o mês de janeiro com 282 mm de chuva, e aí veio fevereiro com bastante chuva, atingindo 314 mm no final do mês. Era muita chuva e o rio Miranda foi enchendo e pensamos: agora vai ter pelo menos uma cheia normal. Mas aí vieram os primeiros seis dias de março que juntos choveram 318 mm, e aí veio essa cheia espetacular!!! É muita água! Foram 914 mm de janeiro até o início deste mês!

Considerando que 1 mm de chuva significa que choveu 1 litro por m2, isto quer dizer que numa área como a Fazenda San Francisco que tem aproximadamente 150.000.000 m2 (15.000 hectares), caíram 137,1 bilhões de litros de chuva em 65 dias! São cerca de 2 bilhões de litros por dia! Isto é suficiente para encher mais de 840 piscinas olímpicas por dia! Não é pra menos que vimos as cenas abaixo...





O nível do Rio Miranda aqui na Fazenda San Francisco atingiu 11 m e 40 cm, e a água já passou por cima de partes da Trilha do Carandá, já cobriu a Trilha da Vazante e a maior parte do porto do Corixo São Domingos.






Na Estrada Parque a água também tá bufando e fechou a circulação de veículos. Na região do Rio Negro, parece também que a cheia tá muito mais intensa do que o normal.

Como é lindo esse Pantanal cheio!!!!

Texto: Henrique Villas Boas Concone - Biólogo

Fotos: Henque Villas Boas Concone e Carol Coelho

Pantanal - Revendo a Onça-pintada Dora...

Dora é uma onça-pintada fêmea que foi capturada pelo Projeto Gadonça em 2003, quando tinha cerca de três anos, uma jovem onça que iniciava a fase adulta de sua vida estabelecendo área de vida em parte da Fazenda San Francisco. Ela foi monitorada pelo Projeto Gadonça por rádio-colar por pouco mais de três anos, período que pudemos registrar encontros dela com um macho também capturado pelo Projeto Gadonça no ano de 2004 (o macho Tora).

No início de 2005 (mais precisamente em abril), durante monitoramento dela, conseguimos avistar a Dora com um filhote de aproximadamente quatro meses de idade, sua primeira cria.

Graças ao monitoramento por rádio entre os anos de 2005 e 2006, pudemos acompanhar toda sua movimentação junto com seu filhote (uma fêmea) até o período de separação das duas que ocorreu entre maio e agosto de 2006.

Ao contrário do que muitas pessoas podem pensar, a independência do filhote em relação à mãe não é pontual, um belo dia resolve ir embora e ponto, não, esta separação se dá de forma gradual e pode se estender por alguns meses.


De 2003 pra cá se passaram oito anos, e ela é agora uma senhora de respeito (cerca de doze anos de idade) que continua a habitar uma parte da Fazenda San Francisco. Nesse período ela foi vista com pelo menos mais duas ninhadas diferentes (aparentemente com apenas um filhote em cada) e neste dia 08 de março ela foi vista novamente acompanhada de um macho adulto. Vou descrever abaixo os acontecimentos dos últimos dias, sendo que nos dois últimos eu não estava presente e relato apenas as impressões dos guias Leandro, Gabriel e Emerson que estavam presentes.

Nesse feriado prolongado de Carnaval, tivemos a visita de Marcos, seu filho João, sua mãe D. Helena e a babá Jake, que vieram pra Fazenda San Francisco com o objetivo específico de tentar ver uma onça-pintada (quanta responsabilidade!). Durante a estadia dessa família querida, juntaram-se a nós mais dois casais de pessoas “loucas” pra ver também Dona Onça: Rodrigo e Juliana, e Ricardo e Aline.

Na tarde de 07 de março o passeio regular de Safári Fotográfico conduzido pelos guias Roberta e Armando conseguiu ver a onça-pintada Dora na beira de uma mata que fica margeando um canal de irrigação, perto do famoso “Capão do Pintada”. Todos no Safári puderam vê-la bem (fotos da Roberta abaixo) e assim que Roberta e Armando voltaram, eles chamaram as três famílias acima mais eu, e lá fomos nós até a Dora. Já estava escurecendo, mas conseguimos vê-la ainda, tomando um belo banho de língua, no estilo gato de casa!



No dia seguinte pela manhã (08 de março) saímos por volta das 06h00 da manhã (o mesmo grupo acima, mas acompanhados do guia Giuliano) pra tentar ver Dora novamente. Seguimos até o “Capão do Pintada” e lá encontramos apenas as batidas (rastros) dela. Continuamos andando pelas áreas da Fazenda San Francisco que fazem parte do território de Dora, e entre a “Bomba do Meio” e o “Zé Paulino” encontramos batidas recentes de um macho e uma fêmea adultos. Nesta saída matutina vimos apenas indícios de onça, mas estes indícios é que nos ajudaram na próxima saída, à tarde.


Eram 16h30 quando saímos novamente atrás de onças-pintadas. Demos uma bela volta pela fazenda até chegarmos à “Bomba do Meio” perto do pôr-do-sol. Esperamos no mirante da bomba até o sol baixar pra que ele não ficasse de encontro com a gente, e então seguimos pela estrada em direção ao “Zé Paulino”. Já estávamos com o facho de luz conectado na Jaguatirica (carro especial para safáris fotográficos), mas como ainda era claro eu não o tinha ligado.

Andamos uns dois ou três minutos e o Rodrigo me perguntou onde deveriam procurar a onça. Eu respondi que como a água estava em toda a área menos no aterro da estrada, se a onça estivesse por ali, estaria provavelmente na margem da estrada, fora da área alagada (apesar de onça-pintada gostar bastante de água). Logo em seguida acendi o facho de luz (o famoso cilibim) e comecei a jogar luz por baixo dos pés de Chico Magro (Guazuma tomentosa) pra tentar encontrar algum animal. Acho que não andamos nem 300m com o cilibim ligado quando graças à luz encontrei não uma, mas duas onças-pintadas (!) embaixo de um Chico Magro, deitadas uma do lado da outra! Paramos o carro imediatamente e aí todo mundo tentava ver o que era, onde estavam, eram duas mesmo (me perguntaram). Logo que as encontrei, uma delas já saiu rapidamente e entrou na parte alagada, por trás da vegetação e ficou sumida um tempo.

Depois de um tempo, todos conseguiram vê-la bem, e aí vimos que se tratava da Dora novamente. Mas agora ela estava acompanhada de alguém... Dora começou então a andar pra frente e pra trás, saindo mais no limpo e voltando pros arbustos, e rosnando bastante. Algumas vezes consegui vê-la urinando com o rabo bem levantado, um comportamento conhecido como “spraying”, usado como forma de comunicação com outro animal, indicando, por exemplo, o estado reprodutivo dela (cio ou não, etc.).

Passado algum tempo naquele vai-e-vem, finalmente a segunda onça mostra sua cara! Era um belo macho adulto, bem maior do que a Dora! Ele a seguia um pouquinho, com ela rosnando bastante, aí tentava uma aproximação e era repelido com um ronco mais forte, até trocarem algumas gentilezas (gentileza de onça é a velha patada mesmo!) e se apartarem por um tempo.

Foi até engraçado, depois desse chega-pra-lá da Dora a impressão que tive é que o macho ficou meio sem graça e se afastou, com cara de cahorro que caiu da mudança. Deu a volta num arbusto e deitou fora da nossa vista. Aí parece que a Dora percebeu que tinha exagerado e foi atrás dele, deitando-se perto dele. Passaram algum tempo ali tomando banho de gato, sem muito mais desentendimentos. Foi então que resolvemos dar a volta, ir embora e deixar o casal à vontade. Tudo em silêncio, exceto pelo barulho do motor do carro na hora da partida. Só quando já estávamos quase na “Bomba do Meio” que a euforia tomou conta do grupo, e todos comemoramos as cenas vistas.



Mas os acontecimentos da semana da onça não pararam por aí... Dia seguinte, quarta-feira de cinzas, na focagem regular com hóspedes da Fazenda San Francisco, os guias Gabriel e Leandro se encontraram também com o casal de onças-pintadas a 500m de distância de onde as vimos. Segundo os relatos deles, as onças estavam bem mais nervosas, e as trocas de gentilezas mais intensas.

O macho chegou até a fazer um “display” de força e dominação ao arrancar roncando em direção ao carro de passeio. Não se preocupem, pois nada aconteceu, mesmo porque os guias são bastante experientes e mantinham uma distância segura de pelo menos quinze metros das onças, justamente para que elas não se sintam ameaçadas e possam se comportar naturalmente sem se preocupar com carros e visitantes. Depois de vê-las por um tempo, eles notaram que dois animais vinham vindo pela estrada lado a lado e, pasmem, eram mais duas onças-pintadas!

Pulemos a quinta-feira, e chegamos na sexta-feira, onde novos avistamentos de onça-pintada aconteceram. Desta vez estavam os guias Emerson e Leandro conduzindo a focagem noturna. Quando estavam na metade da estrada do Lobão, o Emerson avistou graças ao brilho dos olhos, três animais juntos na taipa do canal de irrigação, e eram três filhotões de onça-pintada! Este avistamento foi mais breve, mas os animais não estavam tão longe assim, e as pessoas presentes puderam vê-los.

Agora, ficam algumas questões não entendidas. De quem são esses filhotes? Serão da Dora? Será que dois deles é que estavam se aproximando da Dora e do macho na quarta-feira? Será que por isso a Dora não estava tão receptiva ao macho, porque ela ainda está acompanhada de seus filhotões, e quer mantê-los a salvo de problemas com machos adultos?

Conseguir responder a algumas destas perguntas é um desafio, mas estamos tentando identificar os outros animais avistados a partir de câmeras colocadas em pontos que os animais freqüentam. Ainda não conseguimos identificar o macho que estava com Dora, mas estamos comparando as fotos que o Rodrigo tirou com o banco de dados do Projeto Gadonça pra tentar identificá-lo.

Espero postar em breve algumas respotas...


Texto: Henrique Villas Boas Concone - Biologo Mestre em Ecologia e Conservação

Fotos: Carol Coelho, Roberta Coelho, Henrique Villas Boas Concone e Rodrigo Figueiredo

Roberta Coelho é fotógrafa amadora, turismologa, guia bilingue especializada em Pantanal, conheça melhor em: Bichos Pantaneiros.

Rodrigo Figueiredo é fotógrafo profissional e visitante da Fazenda San Francisco - especializado em fotos sub-aquáticas, conheça melhor em: www.xdivers.com.br


4 de março de 2011

Um "causo" de onça...

Eram cerca de 18h30 (28/02/2011) quando os guias da Fazenda San Francisco me chamaram pra ir atrás da onça-pintada. Eles tinham acabado de voltar do Corixo São Domingos, onde estavam pescando piranhas para alimentar o Tuca: Tuiuiú que está sendo reabilitado após período de recuperação no CRAS/MS - veja no Blog Bichos Pantaneiros.

No fim da pescaria, começaram a escutar uma onça-pintada esturrando (vocalização de onça chama esturro), fora da mata do corixo, no sentido das invernadas da fazenda, mas bem perto de onde estavam. O que você faria nesse momento? Não faço idéia, mas se você é um guia pantaneiro da Fazenda San Francisco, mesmo que já tenha visto o animal várias vezes antes em diferentes tipos de situação, você vai fazer o óbvio... Vai tentar ver de novo!

Foi aí que eu entrei na história. Recebi o recado de que os guias que estavam no Corixo São Domingos (Giuliano, Elmo, Armando, e Emerson) mais os biólogos Gabriel e Kefany, iriam tentar encontrar a onça-pintada indo de carro até onde se acreditava que ela estivesse.

- Vamos ver o bicho? – foi o que o Giuliano me perguntou

- Vam’bora! – respondi

Saímos então os sete, um grupo de pessoas que trabalham no Pantanal e que fazem do avistamento de animais e da paisagem pantaneira seu cotidiano, mas que mesmo ao final de um dia de trabalho, todos partilhavam da mesma adrenalina, da mesma emoção da busca pelo animal mais cobiçado por visitantes (e guias também, por que não?) do Pantanal.

Fomos até um ponto, na Invernada do Corixo, onde paramos o carro e escutamos. O sol já estava quase sumindo, e os mosquitos já estavam se amontoando. Passou mais um tempinho, o Armando começou a imitar a vocalização da onça-pintada usando um esturrador (instrumento parecido com uma cuíca, com som bem grave), pra vermos se ela responderia. Passou mais meia hora mais ou menos, nada de resposta, e a doação de sangue aos mosquitos continuou...

- Vambora que tem pouco mosquito aqui, e eu gosto de muito! – falou o Giuliano.

Essa era nossa deixa pra irmos embora, ou pelo menos tentar...

O que poderia acontecer numa estrada de terra, cheia de valetas, no meio de uma invernada de gado, depois de um mês de fevereiro com mais de 300 mm de chuva? Pois é, isso mesmo, atolamos... Não sei dizer ao certo mais quanto tempo passamos ali tentando sair, cavando em volta das rodas pra desatolar, cortando galhos pra calçar as rodas, talvez uma hora, talvez menos. Posso dizer que apesar de não ser o programa ideal pra um fim de tarde, foi divertido, o grupo trabalhando junto pra sair, na base de brincadeiras e piadas, bem ao estilo pantaneiro. Passado esse tempo de luta contra o atoleiro, o veredicto foi dado, só um trator pra resolver.

Fomos embora a pé, e com a ajuda de uma lanterna, chegamos de volta na sede depois de mais ou menos quarenta minutos andando. Caminhada rápida e divertida, apesar das condições de lama e garoa fina, novamente graças ao espírito dos pantaneiros e suas brincadeiras (leia-se principalmente o guia Elmo - quem conhece sabe do que estou falando).

E a onça? Já ia esquecendo, não vimos não. Pelo menos não ontem à noite.

Mas hoje de manhã, a história teve outro final...

Hoje cedo recebi novo recado do escritório:

- O Giuliano pediu pra te avisar que ele e o Elmo estão lá no Corixo São Domingos escutando a onça esturrar – falou a Kefany

- É mesmo? – respondi (será que dessa vez vai? – pensei)

Como dizem os antigos, quem não arrisca não petisca! Parti pro Corixo São Domingos pra encontrar com eles. Assim que cheguei, minha primeira boa surpresa, ela estava acabando de dar uma esturrada!

- Escutou? – perguntaram os dois, quase em coro

- Caraca! Só escutei o fimzinho... – respondi

Passaram mais cinco minutos e ela começou de novo, desta vez ouvi alto e claro, desde o início, o belo esturro da onça-pintada! Mais cinco minutos de novo, ela voltou a esturrar. Aí, não teve jeito, nós três nos olhamos pensando a mesma coisa:

- Vamos até ela!

Pulamos na Vira-Lata e subimos o Corixo São Domingos até onde eles haviam escutado ela ontem. Paramos lá, motor desligado, segurando na vegetação pra correnteza não nos arrastar pra baixo. Deu uns dez minutos, ela esturrou corixo acima, não muito longe de onde estávamos. Esperamos. O tempo passou (15 min?) e nada mais de esturro. Mas será possível? De novo ela ia atiçar a gente, mas não ia se mostrar? Resolvemos subir mais um pouco, até onde achamos que vinham os esturros, mas paramos na margem oposta, onde parecia haver uma trilha, apesar da inundação ter tomado a maior parte da mata. Queríamos ver pelo menos uma batida (rastro em “pantanês”). Mas não havia nada, só água.

- Acho que ela logrou a gente de novo. Vam’bora! – disse o Giuliano

Foi a palavra-chave! Nem bem resolvemos ir embora, ela começou a esturrar de novo. Do outro lado do corixo, a cerca de 50m da gente, corixo abaixo! Aí foram umas quatro ou cinco esturradas em menos de dez minutos! Estava tão claro que não tinha mais jeito de dar errado, ela só podia estar na beira do corixo. Então fomos soltando a vegetação e deixando o barco rodar pra tentar vê-la sem fazer barulho. Elmo foi o primeiro:

- Olha lá ela!

- Onde? – perguntei

- Bem ali, entre o acuri e a outra árvore! Dá pra ver o peito branco dela!

- (Que m. não estou vendo nada!) – pensei – Eu não ’tô vendo – respondi

- Chega aí Giuliano que você vai ver – falou o Elmo, meio que desistindo do “ceguinho”

- Caraca! Agora eu ’tô vendo – sussurrei

E nisso o barco descia lentamente enquanto a gente passava por onde ela estava. Ela parecia também não acreditar no que estava vendo:

- Da onde saíram esses três? (será que foi isso que ela pensou?)

Depois de descermos bem pra baixo de onde ela estava, Elmo ligou novamente o motor e subimos bem de manso pela outra margem até passarmos por ela. E aí nos aproximamos mais um pouco e paramos segurando nos galhos de uma árvore. E ali pudemos ver ela muito bem. Que animal lindo! Uma fêmea, não muito velha, pelo que deu pra reparar de sua dentição bem branca e pontiaguda. Ficamos ali os quatro, naquela admiração, pelo menos da nossa parte... Ela parecia bem tranqüila e também ficou nos olhando por um tempo, até resolver sair dali. Saímos também, e enquanto a gente comemorava e se cumprimentava pela beleza do momento que a gente tinha compartilhado, ela nos lembrou de que ainda estava por perto, e nos brindou com mais um belo esturro lá de dentro da mata alagada.

- (Êta bicho poderoso) – pensei comigo mesmo

P.S.: É por isso que resolvi contar tudo desde ontem, pra vocês terem idéia de que não é fácil ver um animal como a onça-pintada, e que se você tiver visto uma aqui na Fazenda San Francisco, pode ter certeza de que os guias que estavam te acompanhando ficaram tão felizes (ou mais) quanto você!

1 de março de 2011

[Pousada no Pantanal Sul MS | Brasil] Vida Dedicada: Ações de Conservação em prol das Antas e dos Cachorros-vinagres

As grandes belezas do Pantanal não ficam somente nas admiráveis paisagens propiciadas diariamente aqui na planície, mas também aos belos trabalhos de pessoas que fazem questão de manter essa rica região bem preservada.

Estamos falando de mulheres que assumiram esse grande compromisso de lutar pela preservação dos animais e plantas. Em visita à Fazenda San Francisco duas mulheres que dedicam sua vida a preservar animais ameaçados de extinção no Brasil, uma delas é Patrícia Medici que desenvolve pesquisa aqui no Pantanal com o maior mamífero terrestre do Brasil, a anta (Tapirus terrestris) e a outra guerreira é Cleyde Angélica Ferreira da Silva Chieregatto que trabalha com um dos mais raros canídeos silvestres brasileiros, cachorro vinagre (Speothos venaticus).

O objetivo da vinda de Patrícia e Cleyde na Fazenda San Francisco foi de promover um contato melhor entre o vivenciado ecológico adquirido pelos guias pantaneiros e os trabalhos teóricos desenvolvidos por elas.

Em uma palestra voltada para guias, moradores e turistas, Patrícia e Cleyde abordaram um pouco de suas experiências em anos de serviços dedicados a conservação dessas espécies. O trabalho consagrado que Patrícia vem desenvolvendo no Pantanal está permitindo sugerir ações de conservação e políticas de boa convivência entre fazendeiros e animais silvestres. Já a vinda de Cleyde a fazenda foi para investigar os relatos dos avistamentos de cachorro vinagre e indicar medidas para preservação dessa espécie.

Com a vinda dessas mulheres ao Pantanal parece que o lugar não é mais inóspito para a figura feminina, a região que só era conhecida pelos peões, cada vez mais abre espaço e domínio para as mulheres fortes e guerreiras que tem sempre em mente propiciar um ambiente equilibrado e preservado.





Acima: Fotos Cleide com a equipe do turismo e pecuária da Fazenda San Francisco.



Acima: Foto da Patricia com equipe de Guias da Fazenda San Francisco - orientação e debate sobre a Anta.


Por: Gabriel Fávero Massocato
Fotos: Roberta Coelho