Programa, que estará disponível na internet em novembro, pode ser primeiro passo para criar selo ambiental
GIULIANA MIRANDA DE SÃO PAULO
Com cerca de 90% de seu território dividido em fazendas, o Pantanal acaba de ganhar uma ferramenta para avaliar a sustentabilidade dessas propriedades.
A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Pantanal, após oito anos de estudo, desenvolveu um software que mede o desempenho das fazendas em três frentes: ambiental, econômica e social.
O programa -que será lançado em novembro no Simpan (Simpósio sobre Recursos Naturais e Socioeconômicos do Pantanal)- junta essas informações e chega a uma nota que diz se a fazenda é ou não sustentável.
"O Pantanal tem características muito particulares, que fazem com que os conceitos aplicados em outros ecossistemas não sirvam como parâmetro", afirma Walfrido Tomás, responsável pelos indicadores ambientais.
Segundo a Embrapa, a inclusão dos fazendeiros no processo de conservação é essencial, porque a maior parte das terras pantaneiras não pertencem ao Estado, diferentemente de outros ecossistemas, como a Amazônia.
A ideia do projeto é, em breve, funcionar como subsídio para avaliações mais profundas, como as feitas por certificadoras ambientais, que conferem selos à produção sustentável.
Após o lançamento, o programa será distribuído para alguns produtores e também estará disponível na internet gratuitamente.
"O software auxilia a tomada de decisões e mostra de forma detalhada praticamente todos os aspectos da fazenda. Fica mais fácil saber o que está dando certo e o que está indo mal", disse o coordenador da parte econômica, Urbano de Abreu.
Os pesquisadores tentaram simplificar ao máximo o preenchimento dos dados, mas, em alguns casos, o produtor pode precisar do auxílio de um especialista, como um técnico agrícola.
A Embrapa afirma que vai investir em cursos de capacitação para os produtores e seus funcionários. O objetivo, de acordo com o órgão, é que a avaliação seja cada vez mais simples para o fazendeiro. Quase intuitiva.
INDICADORES
"Como a diversidade biológica é imensa e a gente não consegue medir tudo, nós usamos indicadores que são capazes de mostrar todo o contexto da fazenda", afirma Walfrido Tomás.
De acordo com os pesquisadores, o mesmo conceito também foi usado para chegar ao indicadores econômicos e sociais.
"Nós fomos às fazendas, entrevistamos patrões e funcionários e ouvimos o que eles tinham a dizer. A opinião do pantaneiro, seu modo de vida, conta muito", disse Sandra Santos, coordenadora dos indicadores sociais.
Segundo ela, a qualidade de vida dos funcionários da fazenda depende diretamente do que é fornecido pelos patrões. Por isso, acesso à água e transporte, por exemplo, tem grande peso na hora da avaliação.
"Carteira assinada, por outro lado, é uma obrigação. O produtor que tem não ganha pontos, mas o que não tem é duramente penalizado."
A plataforma foi pensada para levar em consideração a imprevisibilidade do ambiente e também a interação entre os indicadores.
"Não adianta ir bem só em um aspecto. Para receber o grau de sustentabilidade, é preciso estar bem em todos os índices", afirma o pesquisador Urbano de Abreu.
Ferramenta pode ter várias aplicações DE SÃO PAULO
Além de orientar os fazendeiros, os pesquisadores esperam que o software sirva como subsídio para a criação de políticas públicas para a região.
O resultado das avaliações das fazendas, segundo eles, poderia servir como indicador do que está funcionando e do que precisaria ser modificado no Pantanal.
"Se várias fazendas forem mal em um quesito como, por exemplo, acesso à educação, é sinal de que é preciso uma ação específica para esse ponto", afirmou Sandra Santos, pesquisadora da Embrapa.
O bom desempenho das fazendas na avaliação de sustentabilidade também poderia ser considerado na hora de conceder facilidades de crédito aos proprietários rurais.
"O produtor que é sustentável merece reconhecimento. No Pantanal, é impossível falar em conservação sem incluir os fazendeiros na discussão", disse Santos, responsável pelos indicadores sociais do projeto.
Embora não exista compromisso concreto para esses usos da plataforma, os pesquisadores da Embrapa se dizem bastante confiantes em relação à aceitação e à difusão do uso do programa. (GM)
Pecuária é a principal vocação da região, dizem pesquisadores
Adriano Vizoni/Folhapress
Bois em Corumbá (MS), que tem o maior rebanho do Brasil
DE SÃO PAULO Por suas extensas áreas de cerrado, com abundância de vários tipos de vegetação forrageira, o Pantanal é ideal para a pecuária extensiva -aquela com o gado criado solto na fazenda-, dizem os cientistas da Embrapa.
"Ao contrário de outras regiões, não é preciso derrubar árvores para colocar pastagens no lugar", afirma Walfrido Tomás, especialista na biodiversidade pantaneira.
Segundo ele, apesar da vocação natural, são necessários alguns cuidados para garantir que a atividade não interfira na natureza.
Para ele, o novo software da Embrapa ajudará os fazendeiros a racionalizar o uso
dos recursos naturais.
"Nossa maior preocupação é que as fazendas desenvolvam suas atividades mantendo a diversidade biológica e as funções do ecossistemas", afirmou.
Também pesquisador da Embrapa, Urbano de Abreu ressalta que algumas fazendas, sobretudo por conta do tamanho, podem não ser indicadas para a pecuária.
"O software reúne as características econômicas e ambientais da fazenda, o que vai ajudar o produtor a ver se a sua fazenda é ideal para pecuária", afirma. (GM)
[Pantanal Sul MS | Brasil] Pantanal terá índice de sustentabilidade
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