No início de 2005 (mais precisamente em abril), durante monitoramento dela, conseguimos avistar a Dora com um filhote de aproximadamente quatro meses de idade, sua primeira cria.
Graças ao monitoramento por rádio entre os anos de 2005 e 2006, pudemos acompanhar toda sua movimentação junto com seu filhote (uma fêmea) até o período de separação das duas que ocorreu entre maio e agosto de 2006.
Ao contrário do que muitas pessoas podem pensar, a independência do filhote em relação à mãe não é pontual, um belo dia resolve ir embora e ponto, não, esta separação se dá de forma gradual e pode se estender por alguns meses.
De 2003 pra cá se passaram oito anos, e ela é agora uma senhora de respeito (cerca de doze anos de idade) que continua a habitar uma parte da Fazenda San Francisco. Nesse período ela foi vista com pelo menos mais duas ninhadas diferentes (aparentemente com apenas um filhote em cada) e neste dia 08 de março ela foi vista novamente acompanhada de um macho adulto. Vou descrever abaixo os acontecimentos dos últimos dias, sendo que nos dois últimos eu não estava presente e relato apenas as impressões dos guias Leandro, Gabriel e Emerson que estavam presentes.
Nesse feriado prolongado de Carnaval, tivemos a visita de Marcos, seu filho João, sua mãe D. Helena e a babá Jake, que vieram pra Fazenda San Francisco com o objetivo específico de tentar ver uma onça-pintada (quanta responsabilidade!). Durante a estadia dessa família querida, juntaram-se a nós mais dois casais de pessoas “loucas” pra ver também Dona Onça: Rodrigo e Juliana, e Ricardo e Aline.
Na tarde de 07 de março o passeio regular de Safári Fotográfico conduzido pelos guias Roberta e Armando conseguiu ver a onça-pintada Dora na beira de uma mata que fica margeando um canal de irrigação, perto do famoso “Capão do Pintada”. Todos no Safári puderam vê-la bem (fotos da Roberta abaixo) e assim que Roberta e Armando voltaram, eles chamaram as três famílias acima mais eu, e lá fomos nós até a Dora. Já estava escurecendo, mas conseguimos vê-la ainda, tomando um belo banho de língua, no estilo gato de casa!
No dia seguinte pela manhã (08 de março) saímos por volta das 06h00 da manhã (o mesmo grupo acima, mas acompanhados do guia Giuliano) pra tentar ver Dora novamente. Seguimos até o “Capão do Pintada” e lá encontramos apenas as batidas (rastros) dela. Continuamos andando pelas áreas da Fazenda San Francisco que fazem parte do território de Dora, e entre a “Bomba do Meio” e o “Zé Paulino” encontramos batidas recentes de um macho e uma fêmea adultos. Nesta saída matutina vimos apenas indícios de onça, mas estes indícios é que nos ajudaram na próxima saída, à tarde.
Andamos uns dois ou três minutos e o Rodrigo me perguntou onde deveriam procurar a onça. Eu respondi que como a água estava em toda a área menos no aterro da estrada, se a onça estivesse por ali, estaria provavelmente na margem da estrada, fora da área alagada (apesar de onça-pintada gostar bastante de água). Logo em seguida acendi o facho de luz (o famoso cilibim) e comecei a jogar luz por baixo dos pés de Chico Magro (Guazuma tomentosa) pra tentar encontrar algum animal. Acho que não andamos nem 300m com o cilibim ligado quando graças à luz encontrei não uma, mas duas onças-pintadas (!) embaixo de um Chico Magro, deitadas uma do lado da outra! Paramos o carro imediatamente e aí todo mundo tentava ver o que era, onde estavam, eram duas mesmo (me perguntaram). Logo que as encontrei, uma delas já saiu rapidamente e entrou na parte alagada, por trás da vegetação e ficou sumida um tempo.
Depois de um tempo, todos conseguiram vê-la bem, e aí vimos que se tratava da Dora novamente. Mas agora ela estava acompanhada de alguém... Dora começou então a andar pra frente e pra trás, saindo mais no limpo e voltando pros arbustos, e rosnando bastante. Algumas vezes consegui vê-la urinando com o rabo bem levantado, um comportamento conhecido como “spraying”, usado como forma de comunicação com outro animal, indicando, por exemplo, o estado reprodutivo dela (cio ou não, etc.).
Foi até engraçado, depois desse chega-pra-lá da Dora a impressão que tive é que o macho ficou meio sem graça e se afastou, com cara de cahorro que caiu da mudança. Deu a volta num arbusto e deitou fora da nossa vista. Aí parece que a Dora percebeu que tinha exagerado e foi atrás dele, deitando-se perto dele. Passaram algum tempo ali tomando banho de gato, sem muito mais desentendimentos. Foi então que resolvemos dar a volta, ir embora e deixar o casal à vontade. Tudo em silêncio, exceto pelo barulho do motor do carro na hora da partida. Só quando já estávamos quase na “Bomba do Meio” que a euforia tomou conta do grupo, e todos comemoramos as cenas vistas.
Pulemos a quinta-feira, e chegamos na sexta-feira, onde novos avistamentos de onça-pintada aconteceram. Desta vez estavam os guias Emerson e Leandro conduzindo a focagem noturna. Quando estavam na metade da estrada do Lobão, o Emerson avistou graças ao brilho dos olhos, três animais juntos na taipa do canal de irrigação, e eram três filhotões de onça-pintada! Este avistamento foi mais breve, mas os animais não estavam tão longe assim, e as pessoas presentes puderam vê-los.
Agora, ficam algumas questões não entendidas. De quem são esses filhotes? Serão da Dora? Será que dois deles é que estavam se aproximando da Dora e do macho na quarta-feira? Será que por isso a Dora não estava tão receptiva ao macho, porque ela ainda está acompanhada de seus filhotões, e quer mantê-los a salvo de problemas com machos adultos?
Conseguir responder a algumas destas perguntas é um desafio, mas estamos tentando identificar os outros animais avistados a partir de câmeras colocadas em pontos que os animais freqüentam. Ainda não conseguimos identificar o macho que estava com Dora, mas estamos comparando as fotos que o Rodrigo tirou com o banco de dados do Projeto Gadonça pra tentar identificá-lo.
Espero postar em breve algumas respotas...
Texto: Henrique Villas Boas Concone - Biologo Mestre em Ecologia e Conservação
Fotos: Carol Coelho, Roberta Coelho, Henrique Villas Boas Concone e Rodrigo Figueiredo
Roberta Coelho é fotógrafa amadora, turismologa, guia bilingue especializada em Pantanal, conheça melhor em: Bichos Pantaneiros.
Rodrigo Figueiredo é fotógrafo profissional e visitante da Fazenda San Francisco - especializado em fotos sub-aquáticas, conheça melhor em: www.xdivers.com.br
3 comentários:
Curti demais as fotos de Dora e do macho NI, amo a fazenda San Francisco, bem como todos os profissionais que ai trabalham, se pudesse iria sempre, mas a distancia me impede, fico aqui sempre curtindo as noticiais, fotos e mais.
bjs. a todos
Olá todos vcs da Fazenda San Francisco, amei as fotos e a reportagem que fizeram mais uma vez sobre a onça pintada. Achei as fotos da Dora e do macho NI incriveis. Vou sempre curtir o trabalho de vocês e divulgar.
bjs. Sônia
Há exatamente 01 ano estive nesta maravilhosa Fazenda, gostei do trabalho de preservação, o acolhimento e a dedicação de toda a equipe.
Parabéns, voltarei em breve.
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