Municípios gaúchos destacam-se entre os que mantêm cobertura nativa, como Riozinho e Picada Café.
Adair Santos - ABC Domingo Comente esta notícia Letra
Riozinho - Imagine a seguinte situação: um visitante vem até o quintal da sua casa e corta 93 daquelas 100 belíssimas árvores nativas que ornamentam a propriedade, responsáveis por um complexo ecossistema.
Pois foi exatamente isso que aconteceu com a Mata Atlântica desde o descobrimento do Brasil: 92,74% da faixa que se estende das regiões Nordeste ao Sul do País foi simplesmente dizimada. Como se isso não bastasse, os 7,26% restantes estão sendo alvo de um processo destrutivo predatório, executado com maestria pelo homem – e de forma rápida e em larga escala.
Em um cenário de degradação, alguns municípios gaúchos destacam-se entre os que mais mantêm a cobertura nativa. Riozinho, com 35,74% de floresta remanescente, e Picada Café, com 35,23%, estão entre as 150 cidades mais preservadas do Brasil e, no Estado, ocupam a quinta e sexta colocações, respectivamente.
Mas os dados dos municípios no Brasil não chegam a ser um elogio, na avaliação do diretor de Mobilização da organização não-governamental SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani, pois não são os que mais preservaram a Mata Atlântica, e sim os que menos conseguiram degradar. ‘‘A maioria dos casos é porque foram incompetentes para destruir, não quer dizer que são os que mais preservaram. São os municípios que Deus ajudou. Se dependesse de política pública de preservação, estava tudo no chão’’, lamenta.
A mata possui uma biodiversidade impressionante, abrigando habitantes ilustres, como o mico-leão-dourado, onça-pintada, bicho-preguiça, capivara, tamanduá-bandeira, tatu peludo, jaguatirica, o gato e o cachorro-do-mato, além de outros moradores menos conhecidos, mas igualmente importantes. Juntam-se à lista a garça, o tucano, araras, beija-flor, periquitos, jararaca, o jacaré do papo amarelo, a cobra-coral, o sapo-cururu e peixes famosos, como o dourado, o pacu e a traíra.
Outro dado impressiona: 70% da população brasileira está concentrada em regiões de domínio deste tipo de mata. Tamanha riqueza sempre despertou interesse do homem. Como um lutador atacado de forma desleal por vários oponentes, a mata historicamente sofreu duros golpes de todos os lados. As espécies florestais madeireiras instigaram a cobiça e fizeram fortunas. Geraram empregos e desenvolvimento, é verdade, mas fica a reflexão: a que custo?
Índios, vítimas do desmatamento‘‘Das matas, retiramos a caça e também os remédios. As árvores são importantes para nós e também para os bichos’’. O índio M’byá-Guarani Alberto Orizuela, 76 anos, resume de forma direta o significado da natureza para ele e para as cerca de 100 pessoas que residem nas reservas de Quilômetro 45 e Campo Molhado, em Riozinho.
Para alguns turistas, a Mata Atlântica é apenas uma paisagem a ser admirada e fotografada. Mas para esses indígenas, é sinônimo de sobrevivência pois, mesmo recebendo auxílio do governo federal, Estado e município, ainda mantêm hábitos de caça e pesca herdados dos ancestrais.
Os índios de Riozinho não precisam assistir à televisão ou ler jornais para perceber os estragos que o homem vem desencadeando nos últimos séculos. Necessitam apenas olhar ao redor para concluir que as coisas não são mais como antigamente: a cobertura vegetal é cada vez menor e espécies de animais antes comuns hoje são cada vez mais raras. Isso que ambas as reservas estão encravadas em um dos municípios que mais preservam a Mata Atlântica, Riozinho.
As 20 pessoas que habitam a área no Quilômetro 45 mantêm, nos fundos das casas construídas pela prefeitura, plantações de aipim, batata e hortigranjeiros. O artesanato ajuda a reforçar a renda dos remanescentes deste povo que, séculos atrás, habitava boa parte do território nacional.
Em 1500, na época do descobrimento do Brasil, estima-se que o número de índios era superior a 1 milhão mas, hoje, foi reduzidoa460 mil pessoas (que perfazem cerca de 0,25% da população brasileira).Além disso, conforme a Fundação Nacional do Índio (Funai), há entre 100 mil e 190 mil indígenas vivendo fora das reservas, inclusive em áreas urbanas.
Adair Santos - ABC Domingo Comente esta notícia Letra
Riozinho - Imagine a seguinte situação: um visitante vem até o quintal da sua casa e corta 93 daquelas 100 belíssimas árvores nativas que ornamentam a propriedade, responsáveis por um complexo ecossistema.
Pois foi exatamente isso que aconteceu com a Mata Atlântica desde o descobrimento do Brasil: 92,74% da faixa que se estende das regiões Nordeste ao Sul do País foi simplesmente dizimada. Como se isso não bastasse, os 7,26% restantes estão sendo alvo de um processo destrutivo predatório, executado com maestria pelo homem – e de forma rápida e em larga escala.
Em um cenário de degradação, alguns municípios gaúchos destacam-se entre os que mais mantêm a cobertura nativa. Riozinho, com 35,74% de floresta remanescente, e Picada Café, com 35,23%, estão entre as 150 cidades mais preservadas do Brasil e, no Estado, ocupam a quinta e sexta colocações, respectivamente.
Mas os dados dos municípios no Brasil não chegam a ser um elogio, na avaliação do diretor de Mobilização da organização não-governamental SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani, pois não são os que mais preservaram a Mata Atlântica, e sim os que menos conseguiram degradar. ‘‘A maioria dos casos é porque foram incompetentes para destruir, não quer dizer que são os que mais preservaram. São os municípios que Deus ajudou. Se dependesse de política pública de preservação, estava tudo no chão’’, lamenta.
A mata possui uma biodiversidade impressionante, abrigando habitantes ilustres, como o mico-leão-dourado, onça-pintada, bicho-preguiça, capivara, tamanduá-bandeira, tatu peludo, jaguatirica, o gato e o cachorro-do-mato, além de outros moradores menos conhecidos, mas igualmente importantes. Juntam-se à lista a garça, o tucano, araras, beija-flor, periquitos, jararaca, o jacaré do papo amarelo, a cobra-coral, o sapo-cururu e peixes famosos, como o dourado, o pacu e a traíra.
Outro dado impressiona: 70% da população brasileira está concentrada em regiões de domínio deste tipo de mata. Tamanha riqueza sempre despertou interesse do homem. Como um lutador atacado de forma desleal por vários oponentes, a mata historicamente sofreu duros golpes de todos os lados. As espécies florestais madeireiras instigaram a cobiça e fizeram fortunas. Geraram empregos e desenvolvimento, é verdade, mas fica a reflexão: a que custo?
Índios, vítimas do desmatamento‘‘Das matas, retiramos a caça e também os remédios. As árvores são importantes para nós e também para os bichos’’. O índio M’byá-Guarani Alberto Orizuela, 76 anos, resume de forma direta o significado da natureza para ele e para as cerca de 100 pessoas que residem nas reservas de Quilômetro 45 e Campo Molhado, em Riozinho.
Para alguns turistas, a Mata Atlântica é apenas uma paisagem a ser admirada e fotografada. Mas para esses indígenas, é sinônimo de sobrevivência pois, mesmo recebendo auxílio do governo federal, Estado e município, ainda mantêm hábitos de caça e pesca herdados dos ancestrais.
Os índios de Riozinho não precisam assistir à televisão ou ler jornais para perceber os estragos que o homem vem desencadeando nos últimos séculos. Necessitam apenas olhar ao redor para concluir que as coisas não são mais como antigamente: a cobertura vegetal é cada vez menor e espécies de animais antes comuns hoje são cada vez mais raras. Isso que ambas as reservas estão encravadas em um dos municípios que mais preservam a Mata Atlântica, Riozinho.
As 20 pessoas que habitam a área no Quilômetro 45 mantêm, nos fundos das casas construídas pela prefeitura, plantações de aipim, batata e hortigranjeiros. O artesanato ajuda a reforçar a renda dos remanescentes deste povo que, séculos atrás, habitava boa parte do território nacional.
Em 1500, na época do descobrimento do Brasil, estima-se que o número de índios era superior a 1 milhão mas, hoje, foi reduzidoa460 mil pessoas (que perfazem cerca de 0,25% da população brasileira).Além disso, conforme a Fundação Nacional do Índio (Funai), há entre 100 mil e 190 mil indígenas vivendo fora das reservas, inclusive em áreas urbanas.
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