29 de maio de 2012

Coluna Homem Pantaneiro Conheça Almir Sater


O violeiro, compositor, cantor e ator que universalizou a cultura pantaneira através da música, Almir Eduardo Melke Sater, ou apenas Almir Sater concedeu uma entrevista especial à nossa coluna "Homem Pantaneiro". 

Nascido em Campo Grande (MS), Almir Sater desde os doze anos já tocava viola e gostava do mato e sons da natureza. Aos vinte anos mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar Direito, mas desistiu da carreira de Advogado, tornando-se um músico, confirmando que sua escolha profissional não foi em vão.

Seus sucessos, às vezes de sua autoria ou com sua interpretação, como "Um violeiro toca", "Chalana", "Trem do Pantanal", "Comitiva Esperança" remetem os ouvintes a um lugar no qual é possível vivenciar momentos únicos à natureza. Ele compartilha o Pantanal através do doce tom de sua voz.

A entrevista aconteceu quando o artista passava por Campo Grande (MS), convidado a participar do Projeto Músicas e Sons, realizado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, no dia 22 de maio.  O objetivo do evento é resgatar projetos como o Show Prata Da Casa (1982), que marcaram a história do Estado, trazendo ao palco do Teatro Glauce Rocha grandes nomes da música regional. 

Na entrevista, Almir comenta o que mudou nesses 30 anos de sua trajetória, fala sobre a cultura pantaneira, a importância da preservação do Pantanal, a expedição"Comitiva Esperança" (1985) e conta ainda uma experiência inesquecível que vivenciou nos solos pantaneiros.

Confira agora o bate-papo com o compositor que diz cantar suas músicas para que as pessoas as ouçam de olhos fechados:

Como é voltar para este mesmo palco depois de 30 anos, estando com as mesmas pessoas que fizeram e ainda fazem a história da música regional? O que mudou?

Almir Sater: Mudou nossa aparência, a cor dos nossos cabelos (risos). Há trinta anos o festival foi um marco, todos nós jovens felizes tocando para Campo Grande, para nossos amigos, com um desafio imenso de lotar o teatro. E é bom poder voltar depois de 30 anos e ver que nós sobrevivemos da música e sobrevivemos como pessoa.  A grande importância foi a gente fazer o primeiro disco envolvendo uma geração de músicos e artistas daquela época já que a nossa cidade tinha uma certa efervescência cultural. Não só a nossa cidade, o mundo tinha essa efervescência de música de qualidade, compositores talentosos, que hoje eu sinto um pouco de falta do "criador". Ainda sinto a mesma efervescência desse grupo, a mesma emoção pela arte, pela música e isso é muito bonito.
Hoje temos bons instrumentistas, bons cantores, mas aquela pessoa que do nada tira alguma coisa que emociona alguém, pega uma caneta e de repente escreve uma poesia , isso eu sinto falta...e naquela época sobrava.

Qual é a importância de levar a cultura pantaneira para outras regiões?

AS: Sempre que você leva a sua cultura a outras regiões, tendo uma intimidade, há uma facilidade maior em expandi-la, você consegue abrir portas. Cantar músicas da nossa região é uma forma simpática de se inserir no cenário cultural, ao invés de cantar um blues, um rock `n Roll, você chegar a outros lugares cantando a cultura de seu povo, eu acho muito bonito.

Qual sua opinião sobre a necessidade de preservação do Pantanal?

AS: Eu acho que o Pantanal é um lugar que se auto-protege, a não ser onde existe o grande impacto perto das grandes cidades pantaneiras. Onde existe muita concentração de gente é difícil você conseguir preservar porque as pessoas vão ocupando espaço, a cidade vai crescendo, vai criando gente, e as pessoas precisam de espaço, e assim começam a criar uma certa ambição em relação a região, plantando pasto e derrubando tudo. Mas isso se dá devido a influência da proximidade da cidade. Mas no Pantanal, lá no fundão mesmo, ele é até muito preservado comparado com outras regiões. Existe um medo de pessoas que vem de fora com o intuito de realizar atividades econômicas intensivas, o qual o Pantanal não se presta, tem que tomar cuidado com isso, mas existem leis para isso, e devem ser cumpridas.

Onde você busca inspiração para compor suas músicas?

AS: No estado de espírito. Às vezes eu estou num lugar que não é o ideal, mas eu fecho meus olhos e vou para onde eu quiser. A música me embala, ela até me faz acreditar que eu estou nesses lugares. O importante é estar feliz, em volta dos meus parceiros e poder tocar junto. Não sou um compositor solitário, que trabalha sozinho, eu gosto de trabalhar em parceria, onde a gente se divirta. Quando a música não sai, a gente joga um baralho, daí ela sai (risos). O segredo é estar bem consigo mesmo, no meu caso. Uma das primeiras músicas que eu aprendi a tocar e que ajudou muito na minha trajetória foi o Trem do Pantanal, do Paulo Simões e Geraldo Rocca, era uma música diferente, com uma linguagem um pouco mais pop, e essa fusão deu muito certo.

Como foi a experiência de participar da "Comitiva Esperança", viagem ao Pantanal que completa este ano 27 anos?

AS: Comitiva Esperança foi um trabalho nosso (Paulo Simões e Zé Gomes) onde tínhamos muito tempo sobrando e resolvemos fazer um trabalho de pesquisa, de conhecimento da cultura pantaneira, que é o nosso cenário predileto. Saber o que rolava de música e de sons em lugares tão isolados e tão preservados em sua cultura. Fizemos músicas, um pequeno documentário e temos muitas histórias pra contar depois de quase trinta anos. Percebo que essa expedição valeu a pena.

Você pode contar uma experiência inesquecível vivenciada no Pantanal?

AS: Um dia nosso carro quebrou no meio do Pantanal, e o Pantanal não é um bom lugar para você andar a noite, descalço e sem lanterna, e naquele momento nós não tínhamos nada disso. Aí eu e minha mulher saímos andando, coloquei o meu filho de cavalinho nos ombros e ela pegou nosso outro filho e colocou no ombro dela, paramos debaixo de um pé de paratudo, uma árvore da família dos Ipês, que tem uma flor amarela muito linda, uma árvore medicinal também, e todos os vaga-lumes do mundo estavam naquela árvore. A partir daquele momento, nós seguimos tranquilos a pé, achando que com um cenário daquele nada de ruim podia nos afetar. Nosso medo de cobras, dos bichos peçonhentos que geralmente aparecem a noite, sumiu depois daquele cenário dos vaga-lumes, daquela árvore de natal natural, e ai a gente percebeu que ali só era paz e alegria.

Texto: Laura Toledo (Estagiária Jornalismo - Portal Pantanal Ecoturismo) 



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