Pantanal do Miranda - Mato Grosso do Sul - Brasil * Pousada Pantaneira. Este blog existe para as os amantes da natureza e "curiólogos", como eu, poderem dividir suas aventuras e paixoes por este Pantanal. Fotos do Pantanal Sul e sua biodiversidade, informações sobre as coisas que acontecem na Fazenda San Francisco e notícias sobre meio-ambiente você encontrará aqui. Visite Bonito e Pantanal Sul!
24 de março de 2011
Almir Sater comemora 30 anos de carreira com show em Ribeirão
18 de março de 2011
[Pousada no Pantanal Sul MS | Brasil] Cheia de 2011
Considerando que 1 mm de chuva significa que choveu 1 litro por m2, isto quer dizer que numa área como a Fazenda San Francisco que tem aproximadamente 150.000.000 m2 (15.000 hectares), caíram 137,1 bilhões de litros de chuva em 65 dias! São cerca de 2 bilhões de litros por dia! Isto é suficiente para encher mais de 840 piscinas olímpicas por dia! Não é pra menos que vimos as cenas abaixo...
O nível do Rio Miranda aqui na Fazenda San Francisco atingiu 11 m e 40 cm, e a água já passou por cima de partes da Trilha do Carandá, já cobriu a Trilha da Vazante e a maior parte do porto do Corixo São Domingos.
Na Estrada Parque a água também tá bufando e fechou a circulação de veículos. Na região do Rio Negro, parece também que a cheia tá muito mais intensa do que o normal.
Como é lindo esse Pantanal cheio!!!!
Texto: Henrique Villas Boas Concone - Biólogo
Fotos: Henque Villas Boas Concone e Carol Coelho
Pantanal - Revendo a Onça-pintada Dora...
No início de 2005 (mais precisamente em abril), durante monitoramento dela, conseguimos avistar a Dora com um filhote de aproximadamente quatro meses de idade, sua primeira cria.
Graças ao monitoramento por rádio entre os anos de 2005 e 2006, pudemos acompanhar toda sua movimentação junto com seu filhote (uma fêmea) até o período de separação das duas que ocorreu entre maio e agosto de 2006.
Ao contrário do que muitas pessoas podem pensar, a independência do filhote em relação à mãe não é pontual, um belo dia resolve ir embora e ponto, não, esta separação se dá de forma gradual e pode se estender por alguns meses.
De 2003 pra cá se passaram oito anos, e ela é agora uma senhora de respeito (cerca de doze anos de idade) que continua a habitar uma parte da Fazenda San Francisco. Nesse período ela foi vista com pelo menos mais duas ninhadas diferentes (aparentemente com apenas um filhote em cada) e neste dia 08 de março ela foi vista novamente acompanhada de um macho adulto. Vou descrever abaixo os acontecimentos dos últimos dias, sendo que nos dois últimos eu não estava presente e relato apenas as impressões dos guias Leandro, Gabriel e Emerson que estavam presentes.
Nesse feriado prolongado de Carnaval, tivemos a visita de Marcos, seu filho João, sua mãe D. Helena e a babá Jake, que vieram pra Fazenda San Francisco com o objetivo específico de tentar ver uma onça-pintada (quanta responsabilidade!). Durante a estadia dessa família querida, juntaram-se a nós mais dois casais de pessoas “loucas” pra ver também Dona Onça: Rodrigo e Juliana, e Ricardo e Aline.
Na tarde de 07 de março o passeio regular de Safári Fotográfico conduzido pelos guias Roberta e Armando conseguiu ver a onça-pintada Dora na beira de uma mata que fica margeando um canal de irrigação, perto do famoso “Capão do Pintada”. Todos no Safári puderam vê-la bem (fotos da Roberta abaixo) e assim que Roberta e Armando voltaram, eles chamaram as três famílias acima mais eu, e lá fomos nós até a Dora. Já estava escurecendo, mas conseguimos vê-la ainda, tomando um belo banho de língua, no estilo gato de casa!
No dia seguinte pela manhã (08 de março) saímos por volta das 06h00 da manhã (o mesmo grupo acima, mas acompanhados do guia Giuliano) pra tentar ver Dora novamente. Seguimos até o “Capão do Pintada” e lá encontramos apenas as batidas (rastros) dela. Continuamos andando pelas áreas da Fazenda San Francisco que fazem parte do território de Dora, e entre a “Bomba do Meio” e o “Zé Paulino” encontramos batidas recentes de um macho e uma fêmea adultos. Nesta saída matutina vimos apenas indícios de onça, mas estes indícios é que nos ajudaram na próxima saída, à tarde.
Andamos uns dois ou três minutos e o Rodrigo me perguntou onde deveriam procurar a onça. Eu respondi que como a água estava em toda a área menos no aterro da estrada, se a onça estivesse por ali, estaria provavelmente na margem da estrada, fora da área alagada (apesar de onça-pintada gostar bastante de água). Logo em seguida acendi o facho de luz (o famoso cilibim) e comecei a jogar luz por baixo dos pés de Chico Magro (Guazuma tomentosa) pra tentar encontrar algum animal. Acho que não andamos nem 300m com o cilibim ligado quando graças à luz encontrei não uma, mas duas onças-pintadas (!) embaixo de um Chico Magro, deitadas uma do lado da outra! Paramos o carro imediatamente e aí todo mundo tentava ver o que era, onde estavam, eram duas mesmo (me perguntaram). Logo que as encontrei, uma delas já saiu rapidamente e entrou na parte alagada, por trás da vegetação e ficou sumida um tempo.
Depois de um tempo, todos conseguiram vê-la bem, e aí vimos que se tratava da Dora novamente. Mas agora ela estava acompanhada de alguém... Dora começou então a andar pra frente e pra trás, saindo mais no limpo e voltando pros arbustos, e rosnando bastante. Algumas vezes consegui vê-la urinando com o rabo bem levantado, um comportamento conhecido como “spraying”, usado como forma de comunicação com outro animal, indicando, por exemplo, o estado reprodutivo dela (cio ou não, etc.).
Foi até engraçado, depois desse chega-pra-lá da Dora a impressão que tive é que o macho ficou meio sem graça e se afastou, com cara de cahorro que caiu da mudança. Deu a volta num arbusto e deitou fora da nossa vista. Aí parece que a Dora percebeu que tinha exagerado e foi atrás dele, deitando-se perto dele. Passaram algum tempo ali tomando banho de gato, sem muito mais desentendimentos. Foi então que resolvemos dar a volta, ir embora e deixar o casal à vontade. Tudo em silêncio, exceto pelo barulho do motor do carro na hora da partida. Só quando já estávamos quase na “Bomba do Meio” que a euforia tomou conta do grupo, e todos comemoramos as cenas vistas.
Pulemos a quinta-feira, e chegamos na sexta-feira, onde novos avistamentos de onça-pintada aconteceram. Desta vez estavam os guias Emerson e Leandro conduzindo a focagem noturna. Quando estavam na metade da estrada do Lobão, o Emerson avistou graças ao brilho dos olhos, três animais juntos na taipa do canal de irrigação, e eram três filhotões de onça-pintada! Este avistamento foi mais breve, mas os animais não estavam tão longe assim, e as pessoas presentes puderam vê-los.
Agora, ficam algumas questões não entendidas. De quem são esses filhotes? Serão da Dora? Será que dois deles é que estavam se aproximando da Dora e do macho na quarta-feira? Será que por isso a Dora não estava tão receptiva ao macho, porque ela ainda está acompanhada de seus filhotões, e quer mantê-los a salvo de problemas com machos adultos?
Conseguir responder a algumas destas perguntas é um desafio, mas estamos tentando identificar os outros animais avistados a partir de câmeras colocadas em pontos que os animais freqüentam. Ainda não conseguimos identificar o macho que estava com Dora, mas estamos comparando as fotos que o Rodrigo tirou com o banco de dados do Projeto Gadonça pra tentar identificá-lo.
Espero postar em breve algumas respotas...
Texto: Henrique Villas Boas Concone - Biologo Mestre em Ecologia e Conservação
Fotos: Carol Coelho, Roberta Coelho, Henrique Villas Boas Concone e Rodrigo Figueiredo
Roberta Coelho é fotógrafa amadora, turismologa, guia bilingue especializada em Pantanal, conheça melhor em: Bichos Pantaneiros.
Rodrigo Figueiredo é fotógrafo profissional e visitante da Fazenda San Francisco - especializado em fotos sub-aquáticas, conheça melhor em: www.xdivers.com.br
4 de março de 2011
Um "causo" de onça...
- Vamos ver o bicho? – foi o que o Giuliano me perguntou
- Vam’bora! – respondi
Saímos então os sete, um grupo de pessoas que trabalham no Pantanal e que fazem do avistamento de animais e da paisagem pantaneira seu cotidiano, mas que mesmo ao final de um dia de trabalho, todos partilhavam da mesma adrenalina, da mesma emoção da busca pelo animal mais cobiçado por visitantes (e guias também, por que não?) do Pantanal.
Fomos até um ponto, na Invernada do Corixo, onde paramos o carro e escutamos. O sol já estava quase sumindo, e os mosquitos já estavam se amontoando. Passou mais um tempinho, o Armando começou a imitar a vocalização da onça-pintada usando um esturrador (instrumento parecido com uma cuíca, com som bem grave), pra vermos se ela responderia. Passou mais meia hora mais ou menos, nada de resposta, e a doação de sangue aos mosquitos continuou...
- Vambora que tem pouco mosquito aqui, e eu gosto de muito! – falou o Giuliano.
Essa era nossa deixa pra irmos embora, ou pelo menos tentar...
O que poderia acontecer numa estrada de terra, cheia de valetas, no meio de uma invernada de gado, depois de um mês de fevereiro com mais de 300 mm de chuva? Pois é, isso mesmo, atolamos... Não sei dizer ao certo mais quanto tempo passamos ali tentando sair, cavando em volta das rodas pra desatolar, cortando galhos pra calçar as rodas, talvez uma hora, talvez menos. Posso dizer que apesar de não ser o programa ideal pra um fim de tarde, foi divertido, o grupo trabalhando junto pra sair, na base de brincadeiras e piadas, bem ao estilo pantaneiro. Passado esse tempo de luta contra o atoleiro, o veredicto foi dado, só um trator pra resolver.
Fomos embora a pé, e com a ajuda de uma lanterna, chegamos de volta na sede depois de mais ou menos quarenta minutos andando. Caminhada rápida e divertida, apesar das condições de lama e garoa fina, novamente graças ao espírito dos pantaneiros e suas brincadeiras (leia-se principalmente o guia Elmo - quem conhece sabe do que estou falando).
E a onça? Já ia esquecendo, não vimos não. Pelo menos não ontem à noite.
Mas hoje de manhã, a história teve outro final...
Hoje cedo recebi novo recado do escritório:
- O Giuliano pediu pra te avisar que ele e o Elmo estão lá no Corixo São Domingos escutando a onça esturrar – falou a Kefany
- É mesmo? – respondi (será que dessa vez vai? – pensei)
Como dizem os antigos, quem não arrisca não petisca! Parti pro Corixo São Domingos pra encontrar com eles. Assim que cheguei, minha primeira boa surpresa, ela estava acabando de dar uma esturrada!
- Escutou? – perguntaram os dois, quase em coro
- Caraca! Só escutei o fimzinho... – respondi
Passaram mais cinco minutos e ela começou de novo, desta vez ouvi alto e claro, desde o início, o belo esturro da onça-pintada! Mais cinco minutos de novo, ela voltou a esturrar. Aí, não teve jeito, nós três nos olhamos pensando a mesma coisa:
- Vamos até ela!
Pulamos na Vira-Lata e subimos o Corixo São Domingos até onde eles haviam escutado ela ontem. Paramos lá, motor desligado, segurando na vegetação pra correnteza não nos arrastar pra baixo. Deu uns dez minutos, ela esturrou corixo acima, não muito longe de onde estávamos. Esperamos. O tempo passou (15 min?) e nada mais de esturro. Mas será possível? De novo ela ia atiçar a gente, mas não ia se mostrar? Resolvemos subir mais um pouco, até onde achamos que vinham os esturros, mas paramos na margem oposta, onde parecia haver uma trilha, apesar da inundação ter tomado a maior parte da mata. Queríamos ver pelo menos uma batida (rastro em “pantanês”). Mas não havia nada, só água.
- Acho que ela logrou a gente de novo. Vam’bora! – disse o Giuliano
Foi a palavra-chave! Nem bem resolvemos ir embora, ela começou a esturrar de novo. Do outro lado do corixo, a cerca de 50m da gente, corixo abaixo! Aí foram umas quatro ou cinco esturradas em menos de dez minutos! Estava tão claro que não tinha mais jeito de dar errado, ela só podia estar na beira do corixo. Então fomos soltando a vegetação e deixando o barco rodar pra tentar vê-la sem fazer barulho. Elmo foi o primeiro:
- Olha lá ela!
- Onde? – perguntei
- Bem ali, entre o acuri e a outra árvore! Dá pra ver o peito branco dela!
- (Que m. não estou vendo nada!) – pensei – Eu não ’tô vendo – respondi
- Chega aí Giuliano que você vai ver – falou o Elmo, meio que desistindo do “ceguinho”
- Caraca! Agora eu ’tô vendo – sussurrei
E nisso o barco descia lentamente enquanto a gente passava por onde ela estava. Ela parecia também não acreditar no que estava vendo:
- Da onde saíram esses três? (será que foi isso que ela pensou?)
Depois de descermos bem pra baixo de onde ela estava, Elmo ligou novamente o motor e subimos bem de manso pela outra margem até passarmos por ela. E aí nos aproximamos mais um pouco e paramos segurando nos galhos de uma árvore. E ali pudemos ver ela muito bem. Que animal lindo! Uma fêmea, não muito velha, pelo que deu pra reparar de sua dentição bem branca e pontiaguda. Ficamos ali os quatro, naquela admiração, pelo menos da nossa parte... Ela parecia bem tranqüila e também ficou nos olhando por um tempo, até resolver sair dali. Saímos também, e enquanto a gente comemorava e se cumprimentava pela beleza do momento que a gente tinha compartilhado, ela nos lembrou de que ainda estava por perto, e nos brindou com mais um belo esturro lá de dentro da mata alagada.
- (Êta bicho poderoso) – pensei comigo mesmo
P.S.: É por isso que resolvi contar tudo desde ontem, pra vocês terem idéia de que não é fácil ver um animal como a onça-pintada, e que se você tiver visto uma aqui na Fazenda San Francisco, pode ter certeza de que os guias que estavam te acompanhando ficaram tão felizes (ou mais) quanto você!
1 de março de 2011
[Pousada no Pantanal Sul MS | Brasil] Vida Dedicada: Ações de Conservação em prol das Antas e dos Cachorros-vinagres
Acima: Fotos Cleide com a equipe do turismo e pecuária da Fazenda San Francisco.